Memórias, restos, passagens. A cidade nos habita, a cidade modifica. Mapas infinitos, redesenhados. Outras imagens, que se sobrepõem às anteriores, que trepam com as posteriores, que amam as subseqüentes. Somos peças de andaime - uma a uma - confundindo os contornos e os traços. Há um deserto formado por vias expressas, monumentos brancos e ipês amarelos. A velocidade diminui a superfície de contato. Sou extrato desse cimento que modifica e empedra meus pedaços de alma.
Engarrafada, enfeitada de luzes, a cidade veste seu colar de brilhantes e rubis. A fumaça dança sobre o meu corpo costurado. Aperto um, dois, três. Há apenas uma fila muda. Os sinais alternam suas cores e alimentam os penosos pardais. Eles medem os passos, sugam o desejo e tiram fotografias. Todas essas setas confundem os meus caminhos. E encaminho as minhas dores por email. Cadê você que não responde minhas letras?
Carros parados, ônibus lotados e pés descalços. A chuva benze todas as peles secas. Da poeta marginal ao diplomata engravatado. Os urbanóides procriam expectativas, agarram ilusões e insistem em misturar água e óleo. Meus vôos exigem pousos. Não posso caminhar nesse asfalto quente. Preciso que algo me impulsione para longe do eixo.
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