segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Imagine um homem de 35 anos. Todas as manhãs ele pega o carro, entra no escritório, classifica arquivos, almoça na cidade, joga na lotérica, reclassifica arquivos, sai do trabalho, bebe uma cerveja, regressa a casa, encontra a mulher, beija os filhos, come um bife vendo televisão, deita-se, fornica, adormece. Quem reduz a vida de um homem a essa lamentável sequência de clichês? Um jornalista, um policial, um pesquisador, um romancista populista? De modo nenhum. É ele próprio, é o homem de que falo que se esforça em decompor o dia em uma sequência de posses escolhidas mais ou menos inconscientemente no meio de uma gama de estereótipos dominantes. Arrastado de corpo e de consciência perdidos, numa sedução de imagens sucessivas, desvia-se do prazer autêntico para ganhar, por um ascese de paixão, uma alegria adulterada, excessivamente demonstrativa para ser mais do que fachada. Os papéis assumidos um após o outro lhe proporcionam uma titilação de satisfação quando consegue modelá-los fielmente em estereótipos. A satisfação do papel bem desempenhado é diretamente proporcional á distância com que ele se afasta de si próprio, com que se nega, com que se auto-sacrifica.


Raoul Vaneigem
1. Os funcionários não funcionam. Os políticos falam mas não dizem. Os votantes votam mas não escolhem. Os meios de informação desinformam. Os centros de ensino ensinam a ignorar. Os juízes condenam as vítimas. Os militares estão em guerra contra seus compatriotas. Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os. As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados. O dinheiro é mais livre que as pessoas. As pessoas estão a serviço das coisas.

2. Tempo dos camaleões: ninguém ensinou tanto à humanidade quanto estes humildes animaizinhos. Considera-se culto quem oculta, rende-se culto à cultura do disfarce. Fala-se a dupla linguagem dos artistas da dissimulação. Dupla linguagem, dupla contabilidade, dupla moral: uma moral para dizer, outra moral para fazer.

3. Quem não banca o vivo, acaba morto. Você é obrigado a ser fodedor ou fodido, mentidor ou mentido. Tempos de o que me importa, de o que se há de fazer, do é melhor não se meter, do salve-se quem puder. Tempo dos trapaceiros: a produção não rende, a criação não serve, o trabalho não vale. No rio da Prata, chamamos o coração de bobo. E não porque se apaixona: o chamamos de bobo porque trabalha muito.

Eduardo Galeno

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Marianne Weems (The Builders Association)

http://www.youtube.com/user/TheBuildersAssoc